“O terrorismo no mundo atual” debatido no FIC

Debate moderado por Maria Flor Pedroso e contou com as presenças de Ana Gomes, Nuno Rogeiro, Michael Weiss e Paulo Tunhas

"O terror global, 15 anos depois do 11 de Setembro", foi moderado por Maria Flor Pedroso e contou com as presenças de Ana Gomes, Nuno Rogeiro, Michael Weiss e Paulo Tunhas
A Casa das Histórias Paula Rego recebeu mais um debate no âmbito do FIC – Festival Internacional de Cultura de Cascais. “O terror global, 15 anos depois do 11 de Setembro”, foi moderado por Maria Flor Pedroso e contou com as presenças de Ana Gomes, Nuno Rogeiro, Michael Weiss e Paulo Tunhas.
Michael Weiss, autor do livro “ISIS – Por Dentro do Exército de Terror”, esteve em direto de Nova Iorque via Skype. “Desde a ascenção do chamado Estado Islâmico que o mundo se tornou mais perigoso do que era no momento do atentado do 11 de setembro de 2001. Os grupos de terroristas disseminaram-se e expandiram desde o início da administração Obama nos Estados Unidos da América. Atualmente, a Al-Qaeda possui as maiores delegações que alguma vez teve”, referiu o autor. Para Weiss, existe atualmente, “em termos gerais, uma espécie de guerra fria entre o ISIS e a Al-Qaeda – e este é um nefasto estado das coisas: com duas organizações a competir por um lugar de destaque, o Ocidente vai ter de saber reagir. Conforme disse Obama, e eu concordo, não se podem bombardear zonas sem critério, sem esperar algum tipo de represália por parte de outros povos nas áreas limítrofes. É que estas organizações são vistas como mecanismos de defesa nacional, não como terroristas.”
Nuno Rogeiro, comentador de política internacional, defendeu que “o que temos de discutir é um sistema de segurança no Ocidente, que passe pela prevenção e não pela repressão. Não podemos ultrapassar o problema de chegar às comunidades religiosas muçulmanas e pedir-lhes para entregar quem está a preparar atentados, porque a resposta é sempre diferente. Muitas vezes não estão dispostos a denunciar o terrorismo.” Referiu ainda, que “a questão é gravemente dificultada porque a dinâmica entre os grupos de terrorismo islâmicos varia absolutamente, consoante a localização geográfica. Só a Jabhat al-Nusra tem três posições diferentes face aos Estados Unidos.”
Ana Gomes, deputada europeia por Portugal, acredita que “mudou muito com o atentado. Na Indonésia, onde eu vivia na altura do 11 de setembro, há muito que se sentiam as consequências do terrorismo. Mas o mundo acordou com o atentado de Nova Iorque. A globalização acentuou-se ainda mais desde então, mas a desregulação também é global. Vínhamos do “Fim da História” do Francis Fukuyama e passámos da regulação pelo terror para a desregulação pelo terror. O Ocidente tem responsabilidades, ainda que eu não acredite que a culpa seja nossa. Nos países europeus, é essencial entender que o Islão faz parte da Europa e temos de ter consciência disso.”
Paulo Tunhas, professor de Filosofia da Universidade do Porto, sublinhou que “o que mudou desde o atentado foi a imagem do próprio episódio. Existem organismos islâmicos muito bem definidos e com propósitos muito claros. O mais interessante, para mim, são as reacções muito curiosas que existiram face a este atentado: entre elas, a auto-culpabilização do Ocidente em relação aos atentados. Existe a percepção que os terroristas são movidos por nós, que são apenas executantes imprevistos desses crimes. É a lógica de que nós somos capazes de agir, mas que os terroristas são incapazes de agir por eles próprios.”