António Luís Lopes | “Liberdade – retórica ou ação?”

Opinião

Reduzir a ação política à defesa da Liberdade e do “bem estar” das classes médias, enquanto se decreta o “fim das ideologias” – é absurdo.

Obviamente que a Liberdade é um valor supremo e essencial para que exista Democracia e a sua defesa é primordial – mas de nada serve a Liberdade se não for, precisamente, para que a discussão ideológica se concretize e para que se efetuem escolhas, muitas vezes antagónicas.

O “pragmatismo” não se opõe à “ideologia” – até porque qualquer tipo de “práxis” se baseia numa visão ideológica do Mundo, das instituições, da construção social e económica, por mais que alguns pretendam convencer os incautos do contrário. O discurso do “pragmatismo” é, usualmente, um discurso construído pela (e à) Direita (mas também com defensores que integram a área social democrata) e pretende “vender” a ideia de que as “ideologias” estão “velhas” e “gastas”, não passando de um “delírio” das “esquerdalhas”.

É um discurso que se concentra na “conquista do Poder” e no primado da Economia, através da “sedução” dos eleitores das “classes médias” não em função de Valores ou de princípios ideológicos, mas da aposta na “melhoria das suas condições de Vida”. Isto é – resigna-se à “inevitabilidade” da miséria ou indigência das “margens”, coloca na gaveta o combate pelos mais fracos, submete-se aos ditames dos “mercados” considerados como “tabu” e considera que a História chegou ao “fim” desde que abundem os frigoríficos, os plasmas e os telemóveis topo de gama, gozados amplamente em Liberdade!…

Sabemos o que se segue – afirmar que não existem diferenças entre Esquerda e Direita. Que o que “conta” é a “realidade”. Que pretender mudar o Mundo quando continuam a existir tantas desigualdades é “utopia” e coisa de lunáticos. Imagino que os defensores da escravatura de antanho também tenham apelado ao “pragmatismo” – afinal de contas a mudança ía sair “cara” e dar muitas “chatices”.

Felizmente há sempre uns “idiotas” em todos os momentos da História que continuam a achar que não devem resignar-se ao “conforto” material obtido em determinada época – mas que vale a pena continuar a lutar para diminuir o “desconforto” da miséria e da desigualdade da esmagadora maioria dos cidadãos deste Mundo e que isso se faz em nome de IDEIAS que não se negoceiam e de PRINCÍPIOS dos quais não se abdica.


António Luís Lopes