Paulo Veríssimo, presidente da Associação Empresarial de Sintra (AES) | Foto: arquivo

Paulo Veríssimo, também empresário no setor da restauração, confessa em entrevista à agência Lusa, que têm chegado à associação muitos pedidos de ajuda para requerer os apoios que foram disponibilizados pelo Governo e que, para já, ainda não são muitos os casos que conhece de empresários que “deitaram a toalha ao chão”. Contudo, teme que a situação possa agravar-se nos próximos tempos.

“Por enquanto não tenho ainda relato de muitas falências, mas temos de nos lembrar que estão em vigor as moratórias e que, quando elas acabarem, é que pode vir a avalanche de efeitos, com o desemprego e falências como resultado inevitável”, sublinha o presidente da AES.

Paulo Veríssimo revela que “os hotéis são quem está a viver um cenário mais complicado”, muitos deles encerrados ou com ocupações residuais, enquanto a restauração tem-se reinventado. “Muitas casas têm-se reconvertido e estão a aguentar-se, mas não resistem mais um mês ou até à Páscoa. Muitos empresários estão a investir todas as economias que conseguiram nos últimos anos e, se o confinamento se prolongar por mais tempo, um mês, vão morrer antes”, revela Paulo Veríssimo.

Embora não despreze a situação grave que o país atravessou no mês de janeiro, Paulo Veríssimo critica a atual falta de expectativas dadas pelo Governo quanto ao desconfinamento e reitera que os empresários necessitam de alguma previsibilidade para definirem a estratégia com que vão enfrentar os próximos desafios.

“Acredito que só vão abrir depois da Páscoa e é para aí que estou a direcionar quem nos procura, mas não posso esconder que a falta de planeamento e de uma baliza temporal impede os empresários de estruturar a sua atividade e pensar a reabertura. Coisas tão simples como o que fazer, com que empregados, contratar ou despedir, são decisões que, por enquanto, não conseguimos tomar por não haver diretrizes”, lamenta.

(…) “não faz sentido abrir grandes superfícies, onde há grandes aglomerações de consumidores e maior risco de contágio, enquanto se obriga o pequeno comércio a manter-se encerrado” [Paulo Verríssimo]

Além de criticar a “apatia” e “silêncio” do governo sobre como será feito o desconfinamento e que regras serão impostas, o empresário teme que o “fracasso” da vacinação seja usado como justificação para prolongar o atual estado de emergência. “Depois do alarido inicial, a vacinação está a correr mal e desconfio que se mantenha o país fechado para não correr riscos. Além disso, este ano vamos ter eleições autárquicas e receio bem que todas as decisões estejam também a ser tomadas em função do calendário político, preferindo-se o silêncio e não tomar decisões”, nota o empresário.

Sobre o regresso à atividade, Paulo Veríssimo garante que os empresários de Sintra estão preparados para cumprir as normas que forem decretadas e que já mostraram, aquando do primeiro desconfinamento, que souberam reabrir os seus negócios cumprindo todas as normas de segurança.

“Estamos prontos e, em muitos casos, com melhores condições de higiene e segurança do que outras superfícies que estão abertas de momento, pois na maioria dos casos são os comerciantes a fazer o manuseamento dos produtos”, explica o empresário, que aproveita para criticar a apologia do grande comércio que o governo tem promovido em detrimento do comércio local. “Todos sabemos que o Natal teve um efeito nefasto nos números da pandemia, mas continuamos sem saber pormenores que interessam. Por exemplo, se é na restauração e comércio que há maior transmissão, pois só isso justifica este tipo de medidas. Depois, também não faz sentido abrir grandes superfícies, onde há grandes aglomerações de consumidores e maior risco de contágio, enquanto se obriga o pequeno comércio a manter-se encerrado”, aponta Paulo Veríssimo.

O presidente da AES defende também que as regiões sejam diferenciadas e se tenha em conta a densidade populacional de cada uma nessa ponderação. A terminar, e sem arriscar prognósticos, deseja que os empresários “aguentem o que aí vem”, mas adverte que começam a “faltar as forças” a muitos e que as próprias pessoas estão “saturadas” pela ausência de explicações e de “uma luz ao fundo do túnel”.


Sintra Notícias com Lusa