Festival de Sintra regressa ‘Da Corte às Ruas’ com velhos e novos mundos da música clássica

54.º Festival de Música de Sintra

Programa do Festival de Música de Sintra, 2019, apresentado no Palácio de Queluz | Foto: DR CMS

Foi esta manhã apresentado, no Palácio de Queluz, o Festival de Música de Sintra, que se realiza entre 6 de setembro a 1 de outubro (Dia Mundial da Música), com orquestras, coros e artistas, em concertos e em diferentes locais do concelho.

O Festival, organizado pela Câmara de Sintra e o apoio da Parques de Sintra Monte da Lua, é dedicada ao tema, “Da Corte às Ruas”, esta edição propõe-se mostrar como “a música sempre foi parte importante do quotidiano das comunidades e ninguém, em parte alguma”, lhe ficou indiferente, “das igrejas aos palácios, dos salões da burguesia à ópera”, “bairros populares e à música doméstica”.

“A música é uma entidade sempre aberta às influências, entre as ruas, entre a Igreja, que é a grande fonte erudita, e entre as práticas sociais”, é esta a celebração para este ano, disse hoje, Gabriela Canavilhas, diretora artística do Festival, durante a apresentação do programa, sublinhando que “a música pertence a todos, vai das cortes para as ruas e esse é o grande tema do festival deste ano”.

“Este festival podia se apresentado em qualquer parte do mundo, pela sua enorme qualidade, que não fica apenas pelas cortes”, destacou por seu turno, Basílio Horta, sublinhando o exercício de “cidadania que passa pela cultura” enaltecendo a estratégia e importância do programa ‘Da Corte às Ruas’.

Segundo o presidente da Câmara de Sintra, “há aqui uma grande originalidade, que visa atingir vários públicos”, destacando a “capacidade de sair dos palácios para um público que é uma enorme responsabilidade. As ruas são as nossas freguesias sem as quais o concelho não tem sentido e quando a musica vai às nossas freguesias é de uma grande importância e serviço público do melhor que há: a música é de todos. Para todos”.

Apresentação do 54º FEstival de Sintra

DIRETO – Apresentação do 54º Festival de Sintra

Posted by Câmara Municipal de Sintra on Thursday, 18 July 2019

A 54.ª edição será a celebração da influência entre o Velho Mundo e o clássico e as sucessivas novas práticas sociais que acompanharam as mudanças para a modernidade.

Musica para todos

Estão confirmados intérpretes como os pianistas Nelson Freire, [que abre o festival], Mário Laginha e Cédric Tiberghien, e orquestras como a Gulbenkian, a Sinfónica Portuguesa e Le Poème Harmonique, de Vincent Dumestre, o festival será “testemunho das contaminações entre o ‘velho mundo’ e as sucessivas novas práticas sociais”, que impulsionaram as mudanças para a modernidade, nas artes e da música, lê-se na apresentação.

O pianista Nelson Freire, acompanhado pela Orquestra Gulbenkian, dirigida por Raphael Oleg, abre o festival, no Centro Cultural Olga Cadaval, no dia 06 de setembro, com o Concerto para piano de Edvard Grieg e a 7.ª Sinfonia de Dvorák.

Nelson Freire, ligado ao festival de Sintra desde o seu início, é definido como “uma das maiores lendas vivas do piano no mundo”, pela organização.

A Orquestra Académica Filarmónica, dirigida pelo maestro e fundador Osvaldo Ferreira, estreia-se no festival, com a pianista russa Kristina Miller, como solista, num dos dois concertos de Chopin.

Neste “concerto de descentralização”, que terá lugar em São João das Lampas, no dia 08 de setembro, será também interpretado “Pássaro de Fogo”, de Stravinsky, e estreada uma nova obra de Anne Victorino D’Almeida.

A Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, dirigidos por Graeme Jenkins, vão levar, ao centro Olga Cadaval, no dia 12 de setembro, a primeira audição moderna de “Matuttini dei Morte”, do compositor João Domingos Bomtempo.

Trata-se da primeira etapa da revelação da obra do mais internacional dos pianistas e compositores portugueses da primeira metade do século XIX, um projeto a dois anos que envolve a interpretação de quatro Responsórios, este ano, e de cinco, em 2020.

A interpretação prevê igualmente a gravação ao vivo para posterior edição discográfica, para assinalar o 200.º aniversário da estreia da obra, em 1822, na transladação do corpo de Maria I para a Basílica da Estrela, em Lisboa.

No dia 13 de setembro, na Igreja de Belas, e no dia 14 de setembro, na Igreja de Montelavar, serão ouvidas as “Variações Goldberg”, compostas para cravo por Johann Sebastian Bach, na transcrição para cordas, pelo trio do violoncelista Pavel Gonziakov e das violinistas Tatiana Samouil e Natalia Tchitch.

A soprano portuguesa Ana Quintans, “a mais relevante e internacional cantora portuguesa da atualidade”, e o pianista Filipe Raposo, vão apresentar, em 15 de setembro, no Palácio de Queluz, o programa “Women Under Influence”, um cruzamento de canções renascentistas com as mais contemporâneas versões de repertório urbano do século XX, em arranjos do compositor e pianista.

Durante o mês de setembro, o festival vai receber ainda a Orquestra Jovem Sopros de Sintra, a pianista russa Ana Federova, a violinista coreana Soyoung Yoon e o pianista francês Cédric Tiberghien.

Historicamente marcado pelo ciclo de piano, a edição deste ano, depois da abertura com Freire, terá em Tiberghien outro dos protagonistas, com um programa dedicado a Beethoven e Chopin.

O agrupamento de época Le Poème Harmonique, fundado por Vincent Dumestre em 1998, regressa a Portugal, depois de se ter apresentado em iniciativas como o antigo Festival de Música de Mafra e os antigos Concertos Em Órbita, em 2001, quando apresentou em Lisboa as “Lamentações do Profeta Jeremias”, de Cavalieri.

Assim, no dia 18 de setembro, Dumestre e os seus músicos apresentar-se-ão no Palácio de Queluz, com o programa “Danza!”, sobre a assimilação de danças espanholas em França, no século XVII.

O pianista chinês Xyniuan Wang, vencedor do prémio do público da competição internacional de Leeds, o programa “De la musique avant toute chose”, concebido por João Paulo Santos, sobre a poesia de Paul Verlaine, para a voz do tenor Marco Alves dos Santos, vão passar pelo Palácio de Queluz e pelo Palácio da Vila, nos dias 24 e 25 de setembro, respetivamente, em Sintra.

Da Corte às Ruas, programa sobre a música portuguesa do século XVIII, com a soprano Joana Seara e o barítono João Fernandes, elaborado pela orquestra Músicos do Tejo, de Marcos Magalhães e Marta Araújo, vai estar no Palácio de Queluz no dia 27 de setembro.

O pianista Mário Laginha e o seu trio vão atuar no Olga Cadaval, no dia 28 de setembro. Abrem caminho a “Summer Sunday”, “pastoral cómica-trágica-ecológica”, de Joseph Horovitz.

Com encenação de Carlos Antunes e direção de Manuel Líbano Monteiro, “Summer Sunday”, envolve o Coro Allegro e o coro infantil Voci, os solistas Joana Seara, Marco Alves dos Santos e Hugo Oliveira. A conceção vídeo do espetáculo é de Miguel Matos.

O concerto de encerramento ficará a cargo da Orquestra Chinesa de Macau, dirigida por Liu Sha, em 01 de outubro, Dia Mundial da Música. A orquestra atua no âmbito das celebrações do 40.º aniversário das relações diplomáticas entre Portugal e China, e do 20.º aniversário da transferência de Macau para a administração chinesa.

“A música foi sempre uma parte importante do quotidiano das comunidades na Europa moderna, numa comunicação constante entre a Corte, a Igreja e o espaço popular”, lê-se na apresentação do certame.