Morreu, Jorge Telles de Menezes

Morreu hoje o escritor, tradutor, crítico literário, Jorge Telles de Menezes, uma figura de referência no panorama da cultura em Sintra

Morreu hoje o escritor, tradutor, crítico literário, Jorge Telles de Menezes, uma figura de referência no panorama da cultura em Sintra. Partiu hoje, mas deixou-nos o amor a Sintra na sua poesia.

As Cerimónias Fúnebres de Jorge Telles de Menezes, realizar-se esta terça-feira, dia 28 de agosto, a partir das 17h00 na Igreja Santa Maria São Miguel em Sintra. A Cerimónia Religiosa é na quarta-feira, dia 29 de agosto, às 10h30, na mesma Igreja, seguindo o  funeral para o Cemitério do Alto do Chão Frio, onde será sepultado pelas 11h30.

“Partiu desta vida terrena aquele que sempre viveu na transcendência. O poeta da Natureza e dos Mistérios. o poeta das causas nobres e dos nobres sentimentos. O poeta de Sintra e do Mundo”, escreve na página pessoal João Rodil, (…) “Mas, amanhã, quando a Lua subir de novo o Promontório, será a hora de lembrar, em cada canto de Sintra, a poesia de Jorge Telles de Menezes. E cantarmos alegres os seus versos. E exigirmos que Sintra dignifique a sua memória para sempre. Para que os vindouros saibam que aqui viveu, amou e escreveu um grande poeta”.

(Notícia em atualização)

 

Morreu Jorge Telles de Menezes, mas deixou-nos o amor a Sintra na sua poesia.

“Num triste Verão, com dias de nuvens baixas,
que faziam do Sol lenda de contos tradicionais (…)”
Jorge Telles de Menezes 

Sintra Azul-Lunar

Sim
perguntas-me
e eu respondo-te
querida deusa
sim
é disto que eu gosto
de ser o teu primeiro animal nocturno
de caminhar entre as nuvens da madrugada
pelas ruas desertas
quando o vento açoiteia as folhas de outono

sim
gosto de ser espreitado pelos espíritos da montanha
ocultos nos seus tronos de muros e heras
enquanto eu cantarolo
passando sem temor
sobre o chão molhado pelas lágrimas de uma princesa de névoa

sim
gosto do meu jardim selvagem e das rosas
que se abrem na madrugada para contemplarem diana
banhada pelo luar do solstício de inverno
como na pintura de uma fada do jardim epicureano

sim
gosto deste silêncio e deste assombro só para mim
de ouvir as vozes dos anjos que em coro celebram
num templo perdido no bosque sagrado
meu destino de ser poeta das tuas luas
ó sintra azul-lunar

gosto também meu irmão
sim
da tua mística luz eterna
de ti
que escreveste no aparente silêncio das pedras
a dor escultural da tua busca interior
por um diálogo entre o homem
deus
e a natureza

sim
confesso
gosto das coisas que vivem na penumbra
deste aprender contigo deusa querida
que a vida não acaba com a mera morte
e que o eco das palavras nos teus ventos circulares
ressoará em todas as estações
no ouvido atento do jovem coração
e suas naturais sezões

adianto mesmo amor
sim
que dentro de ti serei eterno
como a aura que circunda teu rosto verde
e se revela sem mácula ao luar
quando te abraço
no leito aberto das
eras e lembranças escritas no teu corpo.

Jorge Telles de Menezes
Azul-Lunar, do livro Selenographia in Cynthia

 

Fotografia: SINTRA SUBTERRÂNEA – CES Círculo de Estudos de Sintra

(Notícia em atualização: 22h54)