Nuno Carvalho | “Quero ser youtuber”… e porque é que isso vai ser bom para as marcas?

(...) "É no mundo Youtube onde se está a formar a grande bolha da audiência e é aqui que as marcas devem estar, não só com os tradicionais anúncios que antecedem cada vídeo, bem como sobre a forma de apoio, patrocínio, product placement, etc".

Foi neste verão junto a uma piscina, aquando de uma pausa de filmagens, que iniciei conversa com uma criança dos seus 8 anos. Ela entretinha-se entusiasmada com uma câmara GoPro, já parecia dominar todas as funções e não tinha dúvidas como captar o melhor mergulho daquela tarde quente de Setembro.

Uma criança sabe melhor que qualquer adulto como manejar uma câmara de vídeo, qual o melhor ângulo, o momento certo para gravar e até já sabe falar diretamente para a objetiva sem qualquer preconceito ou receio. Enquanto discutíamos as maravilhas da GoPro perguntei-lhe o que ela queria ser quando fosse grande, respondeu prontamente: “Quero Ser Youtuber”, uma estrela da internet!

No top das profissões longe vão os tempos de querer ser astronauta, bombeiro ou jogador de futebol, ser Youtuber está na mira de qualquer criança, mais até do que ser DJ. Para quem não sabe, “Youtubers” são os novos famosos da internet, muito sucedidos, fazem vários vídeos por mês sobre qualquer assunto que se possa imaginar e se não existir assunto naquele dia fazem um vídeo sobre o facto de não haver assunto.

Hoje qualquer adolescente tem como ídolo, um, dois, três ou mais Youtubers. Há para todos os gostos. Encontramos Youtubers que só fazem vídeos sobre jogos, outros que se entretêm a rebentar coisas, uns que abrem caixas (unboxings), há sempre um Youtuber especialista em alguma área.

Acontece que alguns têm tanta audiência nos seus canais que viraram famosos, eles dão autógrafos, têm fãs, milhares de seguidores e, acima de tudo, têm audiência, muita audiência, um público fiel que os segue dia após dia. Os Youtubers são os novos Morangos com Açúcar ou os novos Dzrt. Há 10 anos qualquer adolescente esperava conhecer um dos Dzrt, sonhava que viessem à escola deles cantar, hoje estes millennials não querem saber quem é o famoso da TV, para eles só importa quem estão a seguir na internet, têm o seu Youtuber preferido sempre acessível na palma da mão.

Se dúvidas existissem, esta é a prova que a Internet é mesmo a nova TV. E o que têm as marcas a ganhar com este movimento? Têm tudo a ganhar! Se querem comunicar para um target jovem este é o caminho e os números estão aí: Só para se ter uma ideia, um dos top Youtubers de Portugal, o SirKazzio, teve no mês passado 13,4 milhões de views e no total o seu canal de Youtube já tem mais de 950 milhões de visualizações.

Se fizermos uma comparação, programas líderes de audiência da televisão convencional como “Apanha se puderes” ou “The Voice of Portugal” têm pouco mais de um milhão de telespectadores a assistir num Domingo à noite.

Cada um destes programas da TV implica produções caras, elencos de luxo, dezenas de profissionais, versus as simples produções dos Youtubers com uma ou duas pequenas câmaras de vídeo e uma jovem personagem anónima que comunica ferozmente com os seu fãs.

Outro Youtuber de sucesso, o D4rKFrame, no último mês lançou um vídeo por dia e cada um desses vídeos teve mais de um milhão de views e alguns deles com contagens acima dos dois milhões. Feitas as contas só no mês passado estão somadas no total 36,9 milhões de visualizações.

E à medida que estes Youtubers vão consolidando o seu público, vão-se tornando “Influencers”, esta nova palavra que tanto se vai ouvir falar nos próximos tempos. Os “influencers” serão os novos líderes de opinião, vão dominar a comunicação audiovisual e em breve vão valer milhões. Ganham as marcas que os souberem agarrar já!

É no mundo Youtube onde se está a formar a grande bolha da audiência e é aqui que as marcas devem estar, não só com os tradicionais anúncios que antecedem cada vídeo, bem como sobre a forma de apoio, patrocínio, product placement, etc.

Há dias, quando dava uma pequena palestra técnica sobre a importância do 4K, perguntei à jovem audiência de uma escola que estava a assistir, quantos viam televisão convencional? Dos presentes apenas duas mãos se levantaram, as dos dois professores que os acompanhavam… mas quando questionados sobre o Youtube todas as mãos se ergueram e as dos professores também.

Estudos recentes prevêem que estes millennials venham a representar dentro de 10 anos mais de 50% da força de vendas a nível mundial.

É um facto que estas audiências se concentram ainda num target muito jovem, porque o conteúdo é muito jovem também. Mas aqui há espaço para crescer, público mais crescido está apto a receber conteúdos direcionados para eles e também a seguir Youtubers mais maduros.

Depois da invenção da TV não assistimos até hoje a nenhuma outra revolução como esta no audiovisual. Estamos apenas a ver o início do fenómeno, um início que parece ainda uma brincadeira, conteúdos pouco sérios onde, por enquanto, o importante é aparecer e comunicar diretamente com a audiência. Os Youtubers não estão preocupados com grandes teorias sobre se o que se diz é certo ou errado, ou como cantavam os DZRT no tempo da TV: “Para mim tanto me faz, se dizes coisas boas ou coisas más”.

Nuno Carvalho, director da Empresa, Click and Play Studio

[Artigo de Opinião publicado na “Publituris“] e no Sintra Notícias