Duarte Caldeira, ex-presidente dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém (Sintra), ex-presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses e atual presidente do Centro de Estudos de Intervenção e Proteção Civil, em entrevista ao Notícias ao Minuto, disse que “Em Portugal, o nosso Estado Islâmico chama-se incêndios florestais”.

O último balanço da tragédia ocorrida na região Centro do país dá conta de 64 vítimas mortais e mais de 200 feridos. Aldeias evacuadas, habitações destruídas, pessoas retiradas de casa por precaução e uma enorme mancha cinzenta. É desta forma que se pode descrever os efeitos dos incêndios da última semana, tendo sido o de Pedrógão Grande o mais gravoso.

Foto: REVIVER MAIS – Associação dos Operacionais e Dirigentes dos Bombeiros Portugueses / Rogério Oliveira

Para Duarte Caldeira é “óbvio que teve de falhar alguma coisa”, embora defenda que nenhuma das falhas partiu da Polícia Judiciária que afirmou, perentoriamente, que a causa do incêndio foi uma trovoada seca.

É preciso passar das palavras aos atos, porque não há falta de diagnóstico há é falta de coragem política

A ausência de uma estratégia que defina a interdição das vias rodoviárias no perímetro do incêndio é uma das falhas apontadas pelo especialista que acusa a Proteção Civil de ser “fechada a opiniões exteriores”, apontando quatro lições que, sublinha, devem ser retiradas desta tragédia.

Que lições se devem tirar desta tragédia?

“Em primeiro lugar levar a sério e definitivamente a alteração do mundo rural em Portugal, porque o nosso território está absolutamente anarquizado e a verdade é que um dos grande aliados dos incêndios é a ausência de ocupação humana do espaço. É preciso passar das palavras aos atos, porque não há falta de diagnóstico há é falta de coragem política.

Há outro Portugal para além das cidades e dos turistas e que só é lembrado quando os incêndios ocorrem.

Em segundo lugar, o nosso sistema de Proteção Civil continua a ter vulnerabilidades que precisam de atenção e de decisões e em terceiro lugar falta uma estratégia de comunicação todos os dias.

em Portugal o nosso Estado Islâmico chama-se incêndios florestais. Temos que olhar para os incêndios como um problema de segurança nacional”

Para Duarte Caldeira e já em jeito de conclusão, “a realidade é que os cidadãos não sabem o que fazer em situações de catástrofe. Um estudo feito há dois anos concluiu que 80% dos portugueses não sabe nem manusear um extintor nem o que fazer durante um sismo. Ficou demonstrado outra vez que um cidadão é o primeiro garante da sua sobrevivência se souber o que fazer. Na sociedade portuguesa não existe uma cultura de auto-proteção porque também não tem sido definida como prioridade no sistema de Proteção Civil a formação dos cidadãos. A quarta e última lição prende-se com o facto de estas questões de segurança não poderem ser tratadas durante o ano apenas como dimensões orçamentais, porque em Portugal o nosso Estado Islâmico chama-se incêndios florestais. Temos que olhar para os incêndios como um problema de segurança nacional”

Ler entrevista na íntegra no Notícias ao Minuto
Foto: REVIVER MAIS – Associação dos Operacionais e Dirigentes dos Bombeiros Portugueses / Rogério Oliveira