Em consulta recente de cartografia, antiga da bacia estuarina do Tejo e, para a zona ribeirinha de Algés, no passado designada por “Praias de Pedroiços”, pude constatar que, entre 1847-1850, um antigo fortim denominado de Nossa Senhora da Conceição, tinha dado lugar a um palacete exuberante, com o mesmo nome, edificado pelos Senhores de Pombeiro e Marqueses de Belas, nos meados do século XIX.
O fortim de Nossa Senhora da Conceição de Pedrouços foi construído nos finais do séc. XVII com o objetivo de tornar mais eficaz a defesa contra um eventual desembarque espanhol nas águas do Tejo, e, em concreto naquelas “Praias” (designação dada à época para a região entre as ribeiras de Algés e Jamor), como podemos constatar numa Gravura de Vista e Perspetiva da Barra, Costa e Cidade de Lisboa, datada de 1763.
Estava situado na margem direita do ribeiro de Algés, próximo da ponte de pedra da Estrada
de Lisboa. Este fortim, exemplar de arquitetura militar, em estilo maneirista, apresentava planta no formato de trapézio isósceles; nos muros abriam-se quinze canhoeiras, onze pelo lado do rio e duas em cada um dos lados do areal.
Pelo lado de terra erguiam-se edificações de serviços, acomodação da guarnição e paiol; a meio rasgava-se o portão de armas que era encimado por nicho com a Imagem de Nossa Senhora da Conceição, Padroeira de Portugal desde 1640. Ao perder o seu valor estratégico, de defesa, por via de reorganização das defesas da Barra do Tejo o fortim é abandonado, dando lugar ao palacete de Nossa Senhora da Conceição. Habitação grande, de aspecto nobre e com
um belo jardim.
Segundo crónicas da época, passou a ter entrada pela Rua Direita, atual Rua Afonso Palla, tendo sido transferido para aí o nicho com a imagem de Nossa Senhora da Conceição, entretanto desaparecida.
Numa passagem da obra de Mário Sampaio Ribeiro, “Da Velha Algés” (1938), temos o seguinte registo:“…no seu recinto [no perímetro fortificado] os nobres Condes de Pombeiro e Senhores de Belas levantaram sumptuoso palácio cujo portão é coroado pela imagem de pedra da Padroeira do Reino – N. S. da Conceição (…). Este portão foi demolido há relativamente poucos anos para se edificar o grande prédio chamado do Patrício, no actual Largo da Estação”.
O rio que chegava ainda ao palácio, nos seus tempos áureos foi sendo aterrado.
Progressivamente o areal foi dando lugar a outras construções, isolando e “asfixiando” o espaço. Junto ao restava do velho forte e exuberante palacete, veio a passar a linha de caminho de ferro de Cascais, foi construída a estação de Algés. Assim, como mais tarde, já na década de 1940, a Estrada Marginal Lisboa-Cascais.
Entretanto o Palácio da Nossa Senhora da Conceição sofre sucessivas adaptações; foi Hotel, da Glória, (alusão aos tempos pomposos dos Pombeiros, a um tempo que, em Algés, existiu o ritual social de “ir a Banhos”), Estação de Correios, Registo Civil, sede de Junta de Freguesia, e, até garagem.
Acabou por “sucumbir” à política dos condomínios que, por mais paradoxal nos possa parecer, devolveu à luz do dia, parte, da muralha do antigo baluarte.
Rui Oliveira / Sintra Notícias