Cavaco Silva saiu de Belém “sem glória “, diz ex-assessor Fernando Lima

Cavaco Silva saiu da Presidência da República sem glória, depois dos últimos anos em Belém terem mostrado um chefe de Estado sem carisma, inseguro e frágil, segundo a análise do ex-assessor Fernando Lima.

“Aos poucos foi desaparecendo a figura do líder forte que conquistara a admiração e o respeito por uma larga maioria dos portugueses, e que se traduziu nas vitórias eleitorais que alcançou, para dar lugar a uma figura receosa, recuada, impercetível, cujo carisma se evaporou. A glória que procurava para o final de uma carreira política não a teve quando se despediu do Palácio de Belém”, escreve Fernando Lima no livro “Na sombra da Presidência – relato de 10 anos em Belém”, que chega quinta-feira às livrarias.

No livro, onde Fernando Lima conta as suas memórias de dez anos em Belém e em que faz a sua defesa no chamado “caso das escutas”, em 2009, o ex-assessor relata a forma como a sua relação com Cavaco Silva “foi definhando com o tempo”.

Depois do chamado “caso das escutas”, conta Fernando Lima, o Presidente quis que se mantivesse em Belém.

“Optei pela total discrição, num ambiente onde ainda imperava o receio. Continuei a escrever notas políticas, notas com ideias para discursos e notas com perguntas/respostas para as saídas do Presidente”, recorda, acrescentando que, apesar de pontualmente lhe serem pedidas “tarefas específicas”, deixou de ser solicitado “a emitir qualquer opinião sobre os assuntos da comunicação do Presidente”.

Contudo, relata, para si e para a sua mulher “verdadeiramente chocante” foi quando Cavaco Silva e mulher passaram por eles, no fim do almoço do Dia de Portugal, em 2010, “e fizeram de conta” que não os conheciam, numa altura em que “José Sócrates estava por perto”.

Cavaco Silva saiu da Presidência da República sem glória, depois dos últimos anos em Belém terem mostrado um chefe de Estado sem carisma, inseguro e frágil, segundo a análise do ex-assessor Fernando Lima

“Nada me pesa na consciência”, assegura ainda o ex-assessor de Cavaco Silva, que termina o livro garantindo não ter dito no chamado “caso das escutas” o que lhe imputavam.

“No entanto, não posso deixar de dizer que teria gostado que as coisas tivessem corrido de outra forma. Talvez, para outros, também as coisas pudessem ter corrido de outra forma”, conclui Fernando Lima no livro editado pela Porto Editora.

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