Fernando Morais Gomes | Mas o que é isso de ser sintrense?

"Verdadeiro sintrense é pois quem pela ação inscreve e constrói mudança, no pluralismo e na diversidade, na atitude e na mobilização, independentemente da certidão de nascimento e do código postal."

Com a campanha eleitoral a banhos pela canícula do Verão e pelos incêndios que não nos dão tréguas, esta está a ser feita sobretudo de picardias, fait divers e “bocas” que atingem a sua “viralidade” ao atingir 200 likes no Facebook.

Mas o que é isso de ser sintrense? Quem cá nasce ou nasceu? Se assim é, é uma espécie em vias de extinção, pois há 30 anos que não há maternidade no concelho de Sintra. Quem cá mora? Mas isso é uma massa imensa de gente apegada não à terra mas ao apartamento ou ao supermercado de bairro. Quem a sente? Isso deixa abertura a estados de alma onde até um norte-coreano pode dizer-se filho de Sintra.

Sintra é isso tudo, mas sobretudo empenho em torno duma geografia, duma gramática de valores e dum sentir colectivo os problemas e pugnar por resolvê-los. Ferreira de Castro ou Maria Almira Medina não nasceram em Sintra mas foram grandes sintrenses. Gil Vicente, Camões, Byron, nunca moraram em Sintra mas foram grandes sintrenses.

Desde Rui Silva até hoje nenhum presidente da Câmara voltou a ser de Sintra, porque Sintra é um laço com muitos nós, dos rapers da Tapada aos saloios de S.João, dos banheiros da Adraga aos proprietários das AUGI’s, dos castelos promontoriais aos bairros problemáticos e desordenados, e dificilmente um nascido cá ou cá residente, só por esse facto, abrangeria no seu conjunto mais que uma visão parcelar ou paroquial desta imensa realidade.

Verdadeiro sintrense é pois quem pela ação inscreve e constrói mudança, no pluralismo e na diversidade, na atitude e na mobilização, independentemente da certidão de nascimento e do código postal.

Tudo o mais são discursos de paróquia, válidos no tempo de Herculano ou Castilho mas hoje voláteis num mundo que deixou de começar e acabar na Volta do Duche, na Sapa ou na feira de S. Pedro.

 

Fernando Morais Gomes, Presidente da Alagamares – Associação Cultural