Comunidade cabo-verdiana inicia “assalto ao poder” na Amadora

Comunidade cabo-verdiana em Portugal "vai assumir um novo desafio político"

A comunidade cabo-verdiana em Portugal “vai assumir um novo desafio político” e iniciar o seu “assalto ao poder” através do lançamento, em março, de uma cooperativa e de um movimento social na Amadora, disse um responsável dos projetos.

“Vou assumir, sem complexos, um novo desafio político. Mas não é para estender a mão aos políticos ou pedir dinheiro. Vamos organizar-nos, vamos criar valores, vamos mostrar a nossa capacidade. E contra números, não há argumentos”, disse à Lusa o presidente do MovinGDiáspora e atual presidente em final de mandato da Associação Cabo-verdiana em Lisboa, Mário de Carvalho.

O “argumento dos números” dão confiança a este cabo-verdiano de 44 anos que se apresenta como “jurista e politólogo”: “A Amadora é uma cidade multicultural. Residem na Amadora 43 nacionalidades diferentes e 57% dos residentes são imigrantes – sem contar com a segunda e terceira gerações, que já têm a nacionalidade portuguesa -, sendo que a comunidade estrangeira mais numerosa é a cabo-verdiana”, disse.

“O MAPA não é um projeto contra ninguém, é um projeto pela comunidade, de organização da comunidade”, acrescentou Mário de Carvalho, que não esconde o desejo de vir um dia a lançar-se, ele próprio, numa candidatura a uma instituição do poder local que dê resposta a uma base eleitoral que sente disponível e propiciadora desse objetivo.

“Sabemos que temos uma comunidade pobre, sem poder para financiar uma campanha, um grande evento”, explicou Mário de Carvalho.

Por isso, cada cooperante irá pagar um euro por mês e o objetivo da cooperativa é atingir até outubro o número de 10 mil cooperantes na Amadora, uma meta que será alcançada tranquilamente, acrescentou.

“Depois, temos outra coisa: estamos fartos de falar, fartos de conversa. O pessoal quer dinheiro no bolso. Fizemos o levantamento de 111 microempresas, pequenos cabeleireiros, cafés, oficinas, e vamos criar uma rede dessas microempresas, a que daremos acesso a formação, microcrédito”, entre outros serviços, explicou.

“Já temos uma dependência bancária que vai trabalhar connosco, a Universidade Lusófona vai trabalhar na formação, vamos criar uma rede de fornecedores, vamos ajudar a regularizar a situação fiscal e de segurança social de alguns, que, infelizmente, não pagam impostos… Vamos colocar esta gente a criar mais riqueza do que cria neste momento”, resumiu.

A MovingDiáspora alojará na sua sede balcões, além de vender serviços de alguns parceiros centrais com os quais nasce – como a TIBA – Portugal, Transportes Internacionais e Trânsitos; a Real Transfer, uma empresa online de transferência de capitais; a Casa do Cidadão; ou a Royal Air Marrocos.

É, no entanto, no domínio dos projetos, serviços e apoios à população que a lista de ideias é mais ambiciosa: “Vamos criar um projeto ligado às hortas comunitárias, vamos ter uma empresa de contabilidade para apoiar as nossas microempresas, vamos ter quatro médicos que irão dar consultas gratuitas à comunidade durante os fins-de-semana, vamos ter 12 advogados para dar todo o apoio jurídico na legalização dos imigrantes, vamos dar o salário a uma pessoa para bater porta às portas e angariar cooperantes”, anunciou Mário de Carvalho.

“É preciso capacitar a nossa comunidade economicamente e mostrar a diferença nesse campo para depois atingirmos os patamares políticos”, sublinhou o fundador da cooperativa.

“Somos uma comunidade trabalhadora, bem integrada, mas uma comunidade que não está representada politicamente. Não temos cabo-verdianos no círculo do poder. Não temos representação política onde as coisas acontecem. Não podemos ter o complexo de reclamar como legítima a nossa organização política. E estamos a dar os primeiros passos nesse sentido”, conclui.

Lusa